Introdução
Pessoalmente, já tinha pensado na criação de algo que ficasse registado para as gerações vindouras e para memória futura, como sejam as expressões e sons utilizados na fala diária dos habitantes da localidade que me viu nascer (dez/1952), e que me transmitiu conhecimentos e hábitos que nunca irei esquecer.
Neste contexto, é de enaltecer e de agradecer aos responsáveis por esta iniciativa e por este desafio, aos quais desde já endosso o meu muito obrigado, para além de estar também grato àqueles que têm manifestado uma demonstração de vontade e uma intervenção direta nas Gentes de Montalvão no âmbito das áreas Culturais, Sociais, Económicas, Institucionais, Lúdicas e Agrícolas. Para além de agradecer também a todos aqueles que têm dado o seu contributo através das Redes Sociais ou de outra forma relacional para que tal desafio e iniciativa tenham um final enriquecedor para as Gentes de Montalvão.
Obrigado a todos.
As regras, as palavras, as frases, as expressões e os jogos abaixo indicados são exemplo dos costumes das Gentes de Montalvão. Trata-se de um modelo que associa a escrita ao som.
Reconheço que muitas palavras há e muitas frases e sons haverão que não constam aqui, pois este trabalho é apenas um contributo e não um documento final.
O aqui exposto, resultante das minhas memórias, pode conter algumas imprecisões, ficando assim aberto a sugestões e alterações. Não me sinto e nem sou detentor de toda a verdade e conhecimento.
Mais uma vez, muito obrigado.
Responsável pelo conteúdo e página web:
Mário Barreto (Nascido e Criado em Montalvão - dez/1952)
Voz Áudio: Mário Barreto - Out/2020
Descrição Sintética da Prolação Usada
- Linguagem corrente com dicção muito rápida e com uma sonoridade própria;
- Omissão de vogais na palavra (“O que
tiraste daí?” ->
O que t’réste daí? );
- Substituição da prolação do ditongo por outra prolação (
pão ->
pã );
- Substituição da prolação de algumas sílabas por outra prolação (
endireitar ->
indrêté );
- Encurtamento da duração sonora de alguns ditongos (
cães ->
cãs );
- Termos específicos para uso local e do conhecimento local (
gadapêre =
pereira brava/catapereiro);
- Na forma Infinitiva dos verbos, a letra final “
r” era suprimida na prolação corrente (
formar ->
formá ).
Algumas Frases/Expressões
Ache que vás gostá diste!
Acho que vás gostar disto!
Aviar a vida (Defecar; Evacuar)
Srª Joaquina (tratamento de cortesia)
Srª Maria (chamamento; tratamento de cortesia)
Srª Maria José (tratamento de cortesia)
Dámecá os palites páçandou o lume!
Dá-me os fósforos para acender o fogo! (Fogo da lareira)
D’quim áqué ousse quinzinhe? Nom sê!
De quem é esse cãozinho? Não sei!
Olhai! O que vem a ser isto? O que se passa?
Excomungada figura! (Amaldiçoar alguém)
Estã a batou as trindédes! Nom ouves?
Estão a bater as trindades! Não ouves? – (Trindades = Toque dos sinos para informar o início da reza das ave-marias ou para chamar os fiéis para tal).
Estã a tocá as matinas! Escúta!
Estão a tocar as matinas! Escuta! – (Matinas =Toque da manhã nos sinos da Igreja (badaladas), ao começo do dia).
Estás aí um fracote (dito com graciosidade).
Estás aí um fraco! És um fraco!
Estou com soltura! (Soltura = diarreia)
Hoje tá uma calorina que só ap’tece bôboi água!
Hoje está muito calor que só apetece beber água!
Iste estámunte amlancade!
Isto está muito amolgado!
Já lá vai Ti Manél? Cá vames Joã!
Já lá vai Sr. Manuel? Aqui vamos João (saudação entre duas pessoas ao cruzarem-se num caminho/rua/estrada)
Leva zuma coça quê já te digue!
Levas uma coça que eu já te digo!
Não tens jeito! Não tens vocação!
Nom foste av’zéde prou casamente?
Não foste avisado/convidado para o casamento?
Nom s’ouve o relóge da Tôrre! O vente mudou! Está do lade da chuva!
Não se ouve o relógio da Torre! O vento mudou! Está do lado da chuva! (Trata-se do bater das horas no relógio da Torre da Igreja; não se ouviam os toques porque o vento soprava de NW, W, SW ou S).
Nom ta limpes ou lence d’assoá!
Não te limpes ao lenço de assoar!
Não tens atadeiro (Não tens habilidade; não prestas atenção)
O que estais a beber? O que bebeis?
O que fazeis? O que estais a fazer?
O que vós vandes a fazoi?
O que vós ides a fazer?
Ondáq fôste? Fôi ávié a vida!
Onde foste? Fui a aviar a vida! (Fui defecar; evacuar)
Ondáq f’quéste? F’quê ali!
Onde ficaste? Fiquei ali!
Ondáq vás, Tónhe? Vou a regá a horta, a pô um pouque d’água nos t’matêres e a dêté a viend’ous pórques!
Onde vás António? Vou a regar a horta e a por água nos tomateiros e a deitar (dar) a vienda (comida) aos porcos!
Onde vás aventar isso? (Aventar: Atirar (o grão) ao ar para que o vento o limpe; em Montalvão = Deitar fora, deitar no lixo).
Senhora, por favor! Abordar ou chamar alguém, mulher, do qual se desconhece o nome.
Senhor, por favor! Abordar ou chamar alguém, homem, do qual se desconhece o nome.
Então, o que vem a ser isto? (expressão de admiração com a demonstração de algum escárnio)
Sem eira nem beira! (Sem rumo, sem direção)
Tá z’imbáxe da escaida de côlhou azêtona!
Estás debaixo da escada de colher azeitona (trabalho rural)!
Tás cá com’a cara de pouques amigues!
Estás com uma cara de poucos amigos!
Tenhe vontá’de lançá fóra!
Tenho vontade de lançar fora! (Lançar fora = vomitar)
Srº António (tratamento de cortesia)
Srº Manuel (tratamento de cortesia)
Srº José (tratamento de cortesia)
Vás a “deitar” arder? (Acender/atear o forno comunitário; fogo normalmente alimentado com a planta esteva (xara))
Vou a brinqué ca minha roda de férre!
Vou brincar com a minha roda de ferro!
Vou a brinqué co’mê carrinhe d’arame!
Vou brincar com o meu carrinho de arame!